(foto: Gal Oppido)
Às vezes vamos ao teatro para assistir uma peça recomendada, ou da qual ouvimos falar. Outras vezes, para conhecer um autor ou ver de perto um ator/ atriz. Outras vezes ainda, para saber mais sobre determinado tema.
A peça que Esther Góes e Ariel Borghi montaram sobre a vida de Helene Weigel junta e supera todos estes motivos. Weigel, companheira de Brecht e figura central do teatro alemão no século XX, foi uma mulher excepcional. Ajudou a moldar o modelo brechtiano de encenação, e teve participação política ativa e desafiadora. Peregrinou por vários países fugindo do nazismo, até a volta a Berlim Oriental, depois da 2ª Guerra, onde fundou o Berliner Emsemble. Socialista convicta, não deixou de criticar o stalinismo e o realismo socialista imposto nas artes no período da Guerra Fria.
Uma mulher extraordinária. Mas quando saímos do teatro, a impressão unânime era de que vimos duas mulheres extraordinárias. Esther está sublime, neste quase-monólogo que escreveu com seu filho, Ariel. A direção dele, meticulosa nos detalhes (vi duas vezes a peça, a marcação de cena é impressionante), mescla imagens filmadas que interagem de modo, hãã… brechtiano, com a ação real. Impactantes, mas provocando um certo distanciamento, que não exclui o riso, em seqüencias com a participação de Renato Borghi. Notável a cena em que Esther/Helene se maquiam, na tela e no palco. E muito adequada a bela trilha composta por Lincoln Antonio.
Uma preciosa aula de história. Uma inesquecível aula de interpretação. A recriação de Weigel como Mãe Coragem é arrepiante. Uma atriz vivendo uma atriz, na pele de uma personagem tão grande que funde e confunde nossa percepção de tal forma que não sabemos mais quem está realmente em cena. Provavelmente todas.
