De volta à Ilhabela. Vamos ver se agora pego embalo até o final do livro. As interrupções das festas natalinas quebraram o ritmo, que vinha constante desde novembro. Quando pensei em retomar, veio a semana em Noronha. Inesquecível, cheia de momentos memoráveis.
Por exemplo, os mergulhos. Nasci na beira do mar, e desde pequeno enfiava a cara na água para ver os peixinhos. Meu batismo com cilindro foi em Angra dos Reis, na década de 80. Fiz alguns mergulhos, visitei naufrágios, peguei minha primeira lagosta pelos bigodes (e larguei). Gosto tanto do mundo submarino que um de meus primeiros heróis foi Jacques Cousteau. Desconfio de que estudei cinema para filmar como ele, e não como Eisenstein, Kubrick ou Chaplin*.
Fernando de Noronha é um lugar especial. O melhor ponto de mergulho do Brasil, disparado. A transparência das águas e a riqueza da fauna são incomparáveis. Os encontros corriqueiros com grandes tartarugas, tubarões, polvos, raias e golfinhos tornam a aventura emocionante. Eu contive a respiração pelo menos em dois momentos: primeiro, com uma barracuda de mais de um metro que passou sobre minha cabeça, no mergulho autônomo em mar aberto. Outro, quando um tubarão de um metro e meio passou tranquilamente sob meu corpo, quando observava tartarugas na baía do Sueste, com snorkel. Se eu esticasse o braço, tocaria nele. Me ignorou solenemente e sumiu em direção à entrada da baía, sem a menor pressa.
Vimos tubarões até em pequenas lagunas, como em Atalaia. Só comem sushi, dizem os nativos para te tranquilizar. Me lembrei que, há muitos anos, um velho pescador de Ilhabela me ensinou a diferença entre cação e tubarão. “Se a gente come ele, é cação. Se ele come a gente, é tubarão”.
Agora faz mais calor em Ilhabela que no mês de janeiro. As águas estão mais límpidas. Ontem corri para a praia no fim da tarde e dei um mergulho. Quase trombei com uma tartaruga-de-pente que pastava algas, sossegada. Felizmente há muitas coisas em comum entre Noronha e Ilhabela!
*Bem, Chaplin talvez.
Só para registrar:
Aa duas primeiras fotos são do fotógrafo profissional que nos acompanhou no mergulho. As duas últimas foram feitas com uma pequena Kodak descartável, por mim mesmo. Perdoem a tosquice dos enquadramentos!
o enquadramento foi poético, só para registrar. Espero que saia logo o livro, mas enquanto isso o blog satisfaz com posts memoráveis. Abraço Daniel,
Poética da imperfeição, Penélope. Obrigado!
Como se chama os tubaroes da foto
Tubarão limão. Provavelmente o menor também, pois só quando cresce adquire este tom amarelado.