Terminei a leitura do Fita Azul, primeiro romance do premiado contista Edmar Monteiro Filho. A impressão final é de que usufruí de uma sofisticada experiência literária, construída com requintes de joalheiro. Cada plano, cada clivagem, cada faceta é finamente planejada, polida, lapidada, e o resultado é um objeto de beleza indiscutível.
Não há exatamente capítulos, mas blocos narrativos marcados por uma indicação cronológica bem sacada. “Tenho nove anos de idade”, diz a personagem, no primeiro capítulo. “Tenho cento e trinta anos”, diz no final. Uma mulher seca, áspera consigo e com os outros, muitas vezes má, tantas vezes vítima, que se refugia na literatura para driblar a família desintegrada, o casamento frustrado, a paixão não correspondida. Escrevendo em primeira pessoa, Edmar transmite credibilidade e mostra pleno domínio narrativo.
A anti-heroína não deve comover o grande público, que prefere emoções mais baratas e epidérmicas. No fundo, todos preferem torcer pelo bem contra o mal, e personagens mais complexos exigem reflexão. Fita Azul é para poucos, para quem gosta de alta literatura. Introspectivo, com contornos meio indefinidos, como uma figura na neblina.
Li Brooklin, de Colm Tóibin, antes do Carnaval, e coincidentemente também é a história de uma mulher que não consegue tomar as rédeas de seu destino, porém jovem, por um curto período de dois ou três anos. Não tenho dúvida em dizer que o Fita Azul é muito melhor, vai durar muito mais na memória.
Minha sogra, mulher culta, instruída e grande leitora, gostou muito do livro. A opinião de uma senhora de 80 anos vale muito mais que a minha, ao comentar a vida de uma mulher de 130!
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