É fascinante assistir o documentário vencedor do Festival É Tudo Verdade de 2012. O diretor, Joel Pizzini, conseguiu o feito de quase anular a sua personalidade criativa, adotando uma forma totalmente sganzerliana de trabalhar as imagens. Mas notamos que há uma inteligência reverente por trás de tudo, fazendo uma homenagem de estilo.
O filme começa caótico, tremido, delirante, desfocado, e tem gente que abandona em dez minutos. Mas as coisas começam a se alinhar, começamos a perceber a ordem da proposta, e do meio pro fim vira uma delícia. Realmente vivenciamos as palavras, o pensamento, as imagens do anárquico diretor que se notabilizou como com dos pioneiros do Cinema Marginal, pós-Cinema Novo.
Não é um documentário tradicional, claro. Talvez faltem algumas legendas de identificação, em certos momentos. O jovem de 22 anos que filmou o Bandido da Luz Vermelha, marco do cinema brasileiro, em 1968, era um mitômano. Idolatrou Orson Welles, emulando seus filmes e tentando recriar sua aventura brasileira, o inacabado filme It’s All True, que dá nome ao festival. Ao mesmo tempo, cultuou Noel Rosa e Jimi Hendrix, dedicando filmes a cada um deles. A contracultura alucinada, o contato com as drogas, a fuga da realidade sob uma ditadura que não dava opções (“quando a gente não pode fazer nada, a gente avacalha!”), tudo isso ajudou a criar a figura do intelectual na contramão, contra tudo e contra todos, meio arrogante, meio patético, com uma obra sempre aquém das ideias por falta de grana.
Até por isso, Godard, Méliès, Oswald de Andrade e Zé do Caixão também estão presentes no seu ideário (e no filme). A grande ausência certamente é Glauber Rocha, figura central do período, ex-marido de Helena Ignez, musa de Sganzerla. Ela interpretou e ajudou a produzir todos os seus filmes, além de terem duas filhas. É personagem central, protagonista das principais cenas “atuais”.
Que o Cinema Marginal é filho do Cinema Novo ninguém discute. Filho rebelde, complicado, que muitas vezes quis matar o pai. Existiria sem o precursor? Talvez essa discussão mereça outro filme, mas é a única lacuna que senti em Mr. Sganzerla – Os Signos da Luz.
Portanto, aplaudo o trabalho de Joel Pizzini e de Maria Flor, produtora e assistente de direção. Minha filha, pra quem não sabe!
Qual filme ele dedicou ao Noel?!
Ele tem um curta, de 1981, chama Noel por Noel. Há várias referências a Noel feitas por ele no filme do Pizzini, como um “marco, um símbolo de criatividade artística brasileira”.
Olá, Daniel
Para mim, crítica é isso: aguçar a vontade de ver/ler/fruir e você faz isso aqui muito bem. Já estava na intenção ver o filme, agora está na agenda. Obrigada, sempre
dalila teles veras
são dois filmes dedicados ao Noel: “Noel por Noel” e “Isto é Noel”. Bjs!
Boa lembrança, Flor!
Uia! 2 filmes dedicados ao Noelzinho, que bacana. Por acaso, vcs saberiam onde posso achá-los?!
Ih, agora complicou… Creio que só em cinematecas! Eu mesmo nunca vi. Alguma luz, Flor?