Assisti à pré-estreia do filme nacional-popular-chique-universal do ano: Gonzaga: De Pai para Filho.
Já antecipo meu veredicto: é muito bom. Saí emocionado, com os olhos úmidos e a alma lavada. O filme realiza a comunhão da produção caprichada, atores sensacionais, direção precisa, roteiro amarradinho e trilha sonora imbatível. Nota 9+, porque sempre há um senãozinho.
Mas vou falar dos méritos, claro. O diretor Breno Silveira havia acertado a mão do gosto popular em 2 Filhos de Francisco (apesar da trilha sonora execrável e o final baba-ovo). Tropeçou em um projeto de ficção com músicas de Roberto Carlos, e voltou a acertar a mão com um verdadeiro artista popular, criador de um gênero, autor de obras-primas. Aliás, um não: dois. Gonzagão e Gonzaguinha.
Como todos já devem saber a essa altura, o filme relata a vida de Luiz Gonzaga mas tem seu foco dramático na difícil relação entre Gonzaga-pai e Gonzaga-filho. Um gênio sertanejo instintivo, telúrico, visceral, tosco, de direita, contra um jovem rebelde, filho abandonado, criado no morro de São Carlos, com “anel de doutor” (dado fundamental na história!), e de esquerda.
Dá conflito? Claro. Dá filme? Depende. Só nas mãos de gente que sabe o que fazer com isso. E a roteirista Patrícia Andrade mostra que é do ramo. A narrativa mantém a fluência o tempo todo, não há “buracos” tediosos, os personagens secundários entram todos na hora certa.
E a direção e produção contribuem, claro. A escolha dos atores é fenomenal, indescritível para quem não viu o filme. Os três atores que interpretam Luiz Gonzaga são ótimos, mas Chambinho do Acordeon*, que fica com o filé da história, é impressionante Só perde mesmo para Julio Andrade, que se transforma em Gonzaguinha. É um clone, um replicante, uma reencarnação. Como descrever? Só vendo.
Alguns detalhes biográficos ficam meio obscuros. A mãe de Gonzaguinha, taxi-girl, era ou não uma prostituta? Gonzagão não seria capaz de gerar filhos? Quem é Rosinha, a filha adotiva que só aparece no finalzinho? Por que diabos o aclamado “Rei do Baião” estava no ostracismo nos anos 70? Como ele conheceu Humberto Teixeira, o letrista-mor?
Tudo isso tira só 0,25 do filme. Quem quiser saber, que pesquise a história, porque filme não é tese acadêmica. E vamos pro principal: a trilha sonora é maravilhosa. Pequenos trechos de alguns sucessos de Gonzagão (e Gonzaguinha) entram em momentos fundamentais.
Asa Branca, Assum Preto, Légua Tirana, Dezessete e Setecentos, Vida de Viajante, Baião, Paraíba,Respeita Januário, estão todas lá. Faltam muitas outras, claro, pois a obra de Mestre Lua é gigantesca. Quem só conhece o Xote das Meninas, na voz de Marisa Monte, vai ficar perdido. Só não entendi porque os momentos românticos entre Gonzagão e a mãe de Gonzaguinha são marcados por um tema de Piazzolla. Nada contra o mestre argentino, mas aqui descontei mais 0,25. Um filme 9,5 é raro, raríssimo! E descobri agora na internet que a direção de fotografia é de Adrian Teijido, o mesmo de O Palhaço, que considerei o melhor filme que assisti o ano passado. As coisas se explicam…
Gonzaga: De Pai para Filho é um bem acabado exemplo de filme nacional-popular-chique-universal. (Xi, acho que já falei isso lá em cima!)
*Recomendo a leitura do artigo de Talita Galli sobre Chambinho do Acordeon na Revista Música Brasileira.
Não vi o filme mas pretendo ver. Gosto de quase tudo do Gonzagão e de quase nada do Gonzaguinha. Como amante de música brasileira sei a resposta de várias perguntinhas feitas no seu post, mas não conto, não conto e não conto porque sei que vc também sabe. Agora uma perguntinha: uma das músicas que eu mais gosto do Gonzagão nem é muito conhecida. Chama “Estrada de Canindé”. Toca no filme?
Um pequeno trecho é tocado, Julio. E compartilho tua opinião sobre a obra dos dois, mas uma do Gonzaguinha, Com a Perna no Mundo, marca um dos momentos mais sublimes do filme.
“Ô, Dina, teu menino desceu o São Carlos…”
Um filme lindo que emociona a todos, seja a idade que for. Parabéns…
É isso aí, Suzy!
Gonzaga é especial para quem é nordestino ou é filho de nordestino… É aquele artista que faz a paz entre pais e filhos. Nunca na vida conheci ninguém que não gostasse dele. Gonzaguinha é ídolo de 10 entre 10 estudantes de história e eu sou uma estudante de história… Enfim é um filme pelo qual espero com medo e ansiedade… Medo de ver a história de dois personagens fundamentais em minha trajetória de vida mal representados e ansiedade por ver suas histórias em grande estilo 🙂
Acredite, Pandora, você não vai se arrepender… E leve um lenço!
Vou assistir com certeza. Com erros e acertos gosto muito dos projetos do Breno Silveira. E sou daquelas que ama 2 filhos de Francisco, é só não ver o fim, rs
bjs
Jussara
Pode crer, Jussara. A história do pai com os meninos é ótima!
Vi o filme e tb adorei. Foi muito emocionante, poxa vida… O crtico da Folha um…deixa pra l, nem sei pq leio esses porcarias…hahahahaha Beijos Ione
É a Falha de SP, cada vez mais irrelevante… Viva a blogosfera!