Futebol e cusparadas

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Futebol é um assunto incontornável, nesses dias de Copa. O assunto está em todos os escritórios, filas, botecos, salas de espera e reuniões (feitas com a TV ligada pra não se perder nenhum lance).

            A festa é grande, os estádios lindos, a torcida festiva, os jogos emocionantes. O caos aéreo previsto pelos fracassomaníacos não existiu, a mobilidade urbana está dentr, os poucos incidentes estão na margem de erro. O pior foi, em dúvida, a vaia ofensiva dirigida à presidenta Dilma, no Itaquerão. Certamente, não partiu dos moradores de Itaquera, mais educados que a plateia coxinha que ocupou a ala vip do estádio.

            Este e outros assuntos já foram bastante debatidos por aí. Mas por falar em educação, aproveito a deixa para tocar num assunto que me intriga, há alguns anos, e que já levantei aqui no Fósforo em 2012. Por que jogador de futebol cospe tanto?

            Não lembro, em minha infância e juventude, de assistir estas porcas demonstrações. Pelé, Rivelino, Tostão e companhia só cuspiam se, por acaso, caíssem de boca na grama, pastando sem intenção. Mesmo assim, cuspiam discretamente, até mesmo tapando a mão com a boca. O que há de errado com a geração atual de craques (e pernas de pau)? Até o jogador que é considerado o melhor do mundo costuma regar o gramado com suas secreções.

            Arrisco três hipóteses. Primeiro, falta de educação, pura e simples. Segunda, burrice ou falta de orientação médica. Durante o esforço físico de correr por 45 minutos, é bom reter todo o líquido possível, já que o corpo naturalmente se desidrata através da transpiração. Jogar em qualquer capital brasileira não é fácil, seja Manaus, Salvador ou Porto Alegre, e desperdiçar líquido é estupidez.

            A terceira hipótese é a de um irrefreável espírito de porco. O sujeito cospe no local onde vai cair de cara na jogada seguinte. Ou pior: vai esfregar o focinho na saliva alheia. A torcida aplaude os ídolos mal-educados, vibra a cada cusparada, deseja secretamente receber alguns respingos do seu herói. E, às vezes, também cospe no prato em que comeu, como no caso da vaia supracitada.

            Seria o caso de perguntar para algum jogador da Alemanha, fortes candidatos à conquista da taça, se isto é o tal do zeitgeist. Nem todos devem ter lido Hegel, mas certamente sabem do que se trata. E cospem também, como a quase totalidade dos participantes desta Copa.

            Deixo uma sugestão para os organizadores de campeonatos, em todas as divisões: o tradicional prêmio de fair play, dado a quem pratica um futebol limpo, deveria ser para a equipe que não cuspisse em campo durante todo o jogo. Seria bem educativo para nossas crianças, não acha?

3 Respostas to “Futebol e cusparadas”


  1. 1 Gladistone Gripp 06/07/2014 às 8:51 pm

    Atento ao rolar da bola e das botinadas, como você me chama à atenção esse gesto hoje comum e extremamente desagradável de se ver; a tal cusparada. Como tenho idade bastante para isso, assisti a muitos jogos de grandes equipes e outras nem tanto. E acredito que a má educação é sim o motivo maior para esse comportamento nada louvável.
    E seus argumentos de base fisiológica tem fundamento. Então nos resta somente repudiar esse gesto mal educado.
    Fora isso, e ainda falando do Grande Jogo, tenho saudades do Futebol Arte, apesar de ainda poder ver jogadores criativos e inteligentes em ação. E repudio esse jogo do “Homem-Máquina”, certamente produto de um tempo também maquínico e essencialmente produtivista.
    Sobre esse “universo”, assistam a um filme de 1975 chamado “Rollerball” (no Brasil, “Os Gladiadores do Futuro”) dirigido por Norman Jewison, e tirem suas conclusões. Talvez venha daí a inspiração para que nossos Campos e Estádios estejam sendo transformados em Arenas!

    • 2 Daniel Brazil 10/07/2014 às 10:49 am

      Boa lembrança, Gladistone. Assisti este filme há décadas, mas lembro bem da violência disfarçada de “esporte”.

  2. 3 dalila teles veras 10/07/2014 às 10:33 pm

    Ufa! E eu que cheguei a pensar que o fato de me incomodar com esses mal-educados gestos era coisa de gente de tempos idos como eu! (aliviada)


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