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Intermitências poéticas

Intermitências

              De vez em quando bate a vontade de ler alguma poesia. Não é algo planejado, nem depende de um estado de espírito especial. Em matéria de poesia, sou um leitor bissexto (perdão, Manuel Bandeira!).

            Agrada-me o fato da poesia ser um inutensílio, como diz o outro Manoel, o de Barros, pois me desobriga de regras, métodos ou exercícios de catalogação. Abro um livro e leio alguns versos como alguém que para em meio à caminhada e contempla folhas secas espanadas pelo vento. Às vezes me agrada a variedade de tons, às vezes o movimento. Algumas deixam impressão indelével.

           Poetas me deixam intrigado. Tenho alguns amigos que possuem este dom ou sofrem desse mal, dependendo do ponto de vista. Participam de saraus e tertúlias, editam revistas e plaquetes, publicam livros, e certamente leem muito mais poesia que eu. Mais que isso, vivenciam. Alguns são pródigos, outros avaros. Uns agitam bandeiras, outros são introspectivos. Há os que provocam risos e os que cutucam feridas. Tem poeta coletivo e poeta solitário. Tem poeta que brada e poeta que pede silencio. E tem muito poeta que pensa que é poeta, mas no fundo é só prosa.

        Na semana passada compareci a três eventos literários. Dois deles eram lançamentos de livros de poesia, o que por si só é um ato admirável. Como não elogiar o destemor de editores que acreditam nessa utopia literária?

               Na última quarta feira reencontrei a amiga Rosana Crispim, lá no Patuscada, o simpático bar-café-livraria da Editora Patuá, em São Paulo. Seu Caderno de Intermitências já ganha pontos a partir da capa, feita com a técnica do pinhole pela fotógrafa Fátima Roque. A apresentação de Dalila Teles Vera ilumina e instiga.

                Guardo o livro anterior da poeta, Entretempo, de 2003. É notável a economia de versos, resultado de elaborada decantação. Não sobram palavras, não há derramamentos emocionais, nem efeitos óbvios, e neste Caderno a receita parece ainda mais apurada. Poesia interior, reflexiva, ora especulativa, ora conclusiva, mas sempre convidando o leitor a participar de uma jornada mental que nos leva a portos inesperados. Com em Eloquência:

O silêncio fala

às vezes

fala demais

e até fala

o indizível

o que não há

o que não deve

 

o silêncio por vezes cala

 

            Aprecio a concisão de Rosana Chrispim, e me pego relendo seus poemas, procurando sentidos fugidios e mensagens subcutâneas. Eu, leitor intermitente, peço emprestados seus passos ‘aos caminhos possíveis/ que me percorrem/ pó pedra pão verso’. A poeta afirma que “todas as certezas/ duvidam”, e confessa que, às vezes, “encontro o poema/ não a poesia”. Será?

            No dia 01/07, às 11 h, o Caderno de Intermitências será lançado na Alpharrabio Livraria, em Santo André. O endereço é Rua Dr. Eduardo Monteiro, 151. Um lugar especial, bem frequentado por essa curiosa grei de poetas.


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