Escrevo contos há um bom par de décadas, embora só tenha publicado em antologias esparsas e alguns sites literários (portanto, obscuros e desconhecidos da grande maioria).
Sinceramente, nunca me animei muito em publicar um livro de contos. Publiquei um romance em 2016, Terno de Reis, que foi bem recebido num círculo restrito de amigos. Enquanto rascunhava causos e histórias, tive a ideia de escrever um romance de contos. Uma trama de fundo, onde cada capítulo fosse entremeado por um conto. Não se tratava de nenhuma invenção revolucionária, uma vez que desde as 1001 Noites isso não é novidade: histórias dentro da história.
Para resumir, um jovem ator se envolve com uma professora de literatura, e vai mostrando para ela sua produção. O toque de pimenta da narrativa era o romance que emergia entre um rapaz de vinte e poucos anos e uma mulher próxima dos quarenta. Ordenei os contos que estavam na gaveta em uma certa ordem, mexi em um ou outro, escrevi dois novos. As coisas se encaixavam. A professora fazia certas críticas, e o aluno tentava corrigir. Brigavam, e isso se refletia no próximo conto. Passavam um fim de semana perfeito na praia, e isso resultava em novo conto.
Ficou interessante, mas resultou em mais de 300 páginas. Em tempos de crise, recessão editorial, custos de gráfica proibitivos e política cultural sombria e obscurantista, um escritor quase desconhecido lançar um romance com tal pretensão me pareceu loucura. Minhas primeiras-leitoras se dividiram: minha sogra, Maria Alice, adorou a novela, achou que os contos atrapalhavam. Minha filha disse que final feliz era um ato ousado, nos dias de hoje. Minha amiga (e editora) Sandra Abrano se declarou fã dos contos.
Após conversa com os meus editores, resolvi lançar um livro apenas com os contos. Uma espécie de antologia pessoal dos últimos 20 anos. Alguns, até premiados, ficaram de fora. Um conto de ficção científica, por exemplo, não se encaixava. Fica pro próximo volume, se houver. Semana que vem conto mais um pouquinho das peripécias de montar um livro de contos, e o orgulho de ter uma capa de Lenio Braga e um prefácio de Edmar Monteiro Filho. A editora Penalux já colocou à venda através de seu site, ,(http://www.editorapenalux.com.br/catalogo…/as-aparencias). Aliás, visite o catálogo da editora, tem muita coisa interessante!