Como a maioria das pessoas, saí encantado do filme Gravidade, de Alfonso Cuarón. Com um fiapo de história, o diretor consegue manter a tensão emocional, calibrando com perícia os eventos que tornarão a vida de Sandra Bullock bastante atormentada.
É claro que os efeitos especiais são parte fundamental do show, uma vez que o filme se passa na estratosfera. Astronautas experientes concordam que é o filme que mais fielmente reproduz o cenário e as condições de trabalho espaciais. Não deixaram de apontar alguns disparates, claro, como o fato de Sandra, a doutora Ryan, pilotar uma nave chinesa sem nunca ter entrado numa antes…
Conversando sobre Gravidade, dias depois, me ocorreu uma ideia curiosa: o filme não é de ficção científica! A história se passa em nossa época, com máquinas e equipamentos existentes, em situações já conhecidas pelo homem. A única coisa, digamos, incomum, é o fato de se desenrolar no espaço, lugar pouco frequentado por nós.
Não chamamos de ficção científica um filme onde um grupo de pessoas tenta escapar de um submarino encalhado no fundo do mar. Ou de um transatlântico emborcado por um furacão. No máximo, é um disaster movie. Gravidade segue o mesmo esquema, com um elenco reduzido ao mínimo. No futuro, será classificado como um filme realista, na linha de Apolo XIII, de Ron Howard. A única diferença é que este é baseado num incidente real, enquanto Gravidade cria um acidente hipotético. Mas perfeitamente plausível, se considerarmos que há hoje no espaço milhares de destroços em órbita, pondo em risco crescente a integridade de satélites, naves e astronautas.
Nada disso tira os atrativos de Gravidade, claro. O 3D funciona na medida certa, a ameaça real dos detritos espaciais é assustadora, Clooney transmite impressionante tranquilidade, Bullock está no melhor papel de sua carreira. Cuarón e sua equipe devem colocar alguns Oscars no currículo, em 2014, e não só de efeitos especiais. Vale o ingresso!