Fui parar em São Roque de Minas, pequena cidade localizada aos pés da Serra da Canastra. Lá encontrei umas das experiências cooperativas mais bem sucedidas do país. No início dos anos 90, São Roque estava decadente. Êxodo rural, população em declínio, fechamento da única agência bancária. A criação da cooperativa, inicialmente para resolver o problema de crédito, dinamizou a economia e fez a cidade renascer. Hoje a lavoura de café cresceu, tem muito milho, e o turismo fez surgir várias pousadas na região. A internet de S. Roque, gratuita, é bancada pela cooperativa, que também construiu escolas para os filhos dos associados, todas conectadas com a rede. O garoto aprende a mexer com computador lá na zona rural, e em breve saberá operar os tratores e máquinas agrícolas modernos, que já exigem tais conhecimentos. Nada mal! Nestas eleições vi, em grandes cidades, candidatos prometendo curso gratuito de informática, sem o menor direcionamento, e lembrava de São Roque de Minas…
Um dos orgulhos da cidade é a fabricação artesanal do precioso Queijo Canastra, um patrimônio cultural cujas origens remontam ao século XVIII. Visitei a única fazenda que produz o Canastrão, esse bitelo aí da foto, que pesa 7 quilos e é feito com 70 litros de leite cru e um bocado de paciência. Delicioso é uma palavra que não diz tudo sobre a experiência de provar esta maravilha.
Ali fica a entrada do Parque Nacional da Serra da Canastra, onde nasce o rio São Francisco, 2700 km antes de desembocar no Atlântico. Muitas cachoeiras, e possíveis encontros com lobos-guará, emas, tamanduás bandeiras e, com sorte, o tatu-canastra. Infelizmente a agenda não permitiu uma visita ao parque. Mas, nas estradas rurais, avistávamos com freqüência gaviões e seriemas, como estas aí, que freqüentam o pátio da escolinha rural depois do recreio, atrás de restos de merenda caídos no chão. Quase domésticas.
A pousada onde dormimos fica dentro da cidade, às margens do Rio do Peixe. A quantidade de pássaros, ao amanhecer, é impressionante. Papagaios e maritacas de todas as cores fazem um escarcéu às 6 horas da manhã. O jeito era levantar e fazer uma caminhada pela beira do rio, esperando o café. A quantidade de curimbatás que vi nas águas rasas do rio me impressionou. Fotografei também um patinho preto nadando no rio, mas o bicho fugiu quando tentei me aproximar.
Conversando com a dona da pousada, fiquei sabendo que havia topado com uma das aves mais raras do planeta, o pato mergulhão. Espécie em extinção, dizem que há menos de 300 exemplares na natureza. Expedições de cientistas e bird watchers do mundo todo se hospedam na Serra da Canastra, tentando fotografar o tal, e muitas vezes voltam de mãos vazias depois de uma semana rastejando na lama, rio acima.
Nesta hora amaldiçoei o fato de não ter uma câmera profissional, com um zoom do tamanho de uma bazuca. Meu pobre e desfocado registro foi enviado para as entidades ambientais que brigam pela preservação da espécie, como a Fundação Pró-Natureza.
Enfim, um lugar pra onde voltarei, de férias. Muitas belezas, muita coisa pra ver. E pra chegar em São Roque tem de passar por Piunhi ( ou Pyunhi), que além do queijo-canastra também faz uma boa cachacinha. Saímos de lá em direção a Ribeirão Preto, passando por Furnas. Linda viagem!