Para entender as origens dessa modesta saga, recomendo ler os dois primeiros posts. Se você pegou o bonde andando, aviso que não abordo lugares turísticos, cartões postais, eventos comuns. Fernando de Noronha ou aquele reveillon na praia são coisas legais, mas milhões de pessoas já estiveram lá ou fizeram algo parecido, e não é este o meu foco. Antes, contar um pouco das roubadas onde me meti, lugares estranhos, inusitados, incomuns, que não constam de nenhum catálogo turístico.
Como, por exemplo, esse aqui:
Quem viaja pelo sertão do Rio Grande do Norte, de Natal até Mossoró, vê no horizonte vários desses estranhos “cavalos”, em movimento constante. Eles bombeiam petróleo do solo para dutos da Petrobras, em pequena quantidade. São centenas espalhados pelo sertão, sob um céu magnífico e abrasador. É uma paisagem comum para quem vive por lá, mas sempre surpreende os “do Sul”. Mossoró é a capital do sal e da carne-de-sol, embora outras cidades nordestinas também disputem o título. Até Governador Valadares, em Minas, se orgulha de ter a melhor carne-de-sol do mundo, vai saber…
E por falar em Petrobras, creio que só funcionários da empresa sabem onde fica esse aeroporto. A província petrolífera de Urucu fica a mais de 600 km de Manaus, e só se chega de avião (ou de barco, mas demora dias). Ali fica o maior campo de extração de gás do país. O grande problema é como fazer este gás chegar até os centros urbanos. O gasoduto Urucu-Coari atravessa muita água e terras inundáveis. Ainda está sendo construído, deve chegar a Manaus. Cercado pela mata virgem, a vida em Urucu é idêntica à uma plataforma oceânica: isolada, com regras rigorosas de segurança e turnos periódicos. O duro foi ficar dois dias sem tomar cerveja, naquele calor… Álcool é expressamente proibido!
Já esta foto foi feita da janela de um trem, no interior do Maranhão. Não um trem qualquer, mas o trem de minério que liga a Serra de Carajás ao porto de São Luís. Gosto da simetria entre jegue e cão. Filmei em cima de um vagão de minério (fiz também o percurso Vitória-Minas!), e passei 4 dias em Carajás, passando por Marabá, Parauapebas, Eldorado do Carajás… O nome te lembra uma tragédia? Estive lá também, no local onde troncos calcinados espetados no chão lembram os mortos do massacre. Filmei, não fotografei…
Mudando de hemisfério, atravessei várias vezes esta feira em Siracusa. Frutos do mar fresquíssimos, uma variedade de mariscos de dar inveja aos mais de 9 mil km da costa brasileira. Ficava no quarteirão onde eu estava hospedado, de frente para o Mar Jônico, onde dei boas braçadas. Siracusa? Mar Jônico? Consulte um enciclopédia, Joãozinho… o Google serve.
Vou danado pra Catende, com vontade de chegar…. conhece os versos de Ascenço Ferreira? Fala da histórica usina de açúcar, que de tão importante era ligada por uma linha de trem até o porto de Recife. Hoje o trem está desativado, mas a usina ainda funciona, em sistema de cooperativa, depois que os donos faliram. Controlada pelos ex-funcionários, é um belo exemplo de luta e conquista dos trabalhadores, superando uma situação quase feudal. Estive lá em duas ocasiões, e me hospedei na antiga casa grande. Essas varandas tem história!