Taí um assunto escabroso. Para alguns, repetitivo e chato. Para outros, bandeira a ser agitada durante toda a vida.
O problema é que muitos que a ostentam em todos os discursos se revelam meros calhordas oportunistas, como o até ontem impoluto senador Demóstenes. Como manifestar indignação contra os corruptos sem se confundir com esse tipo de gente? Eu, que sou bobo mas não besta, nunca embarquei nessas campanhas do tipo “cansei”, justamente por ler jornal e ver quem estimulava esse tipo de movimento. O parlamentar goiano era um ídolo de boa parte daqueles iludidos…
Mas é fácil xingar os políticos (ué, você não elegeu vários deles? Não tem responsabilidade nenhuma nisso?) e fechar os olhos para os pequenos deslizes cotidianos. Subornar o guarda de trânsito, maquiar o imposto de renda, parar o carro na vaga de deficiente, furar a fila, mentir sobre o próprio currículo, etc. Todos mentem, até o Papa. Uns mais, outros menos. Fazer discurso moralista é que é a suprema hipocrisia. Combata o errado, mas não se julgue perfeito por causa disso. Você não faz mais que a obrigação…
Uma das confusões mais difundidas por aí é que nunca houve tanta corrupção como agora. Bem, digamos que a corrupção antes era oculta, certo? Durante todo o período da ditadura militar a imprensa era censurada. Alguém acredita que os partidos do Brasil imperial eram menos corruptos? Que as leis no tempo das capitanias eram ditadas por governantes justos e seguidas por um povo ordeiro? Pois hoje temos mais liberdade de imprensa (viva!), mais repercussão, mais transparência. Onde era escuro, a claridade revela os ratos. Infelizmente, governantes de vários estados brasileiros preferem manter a escuridão, impedindo a abertura de CPIs e fazendo pactos excusos com órgãos de imprensa locais (alô, Serra!), muitas vezes de propriedade dos próprios políticos (alô, Sarney!).
Uma pequena pesquisa me levou ao Dossiê do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral. Baseados em dados do TSE, elaboraram uma lista dos políticos cassados por corrupção no Brasil. Há 632 nomes na lista, que não inclui delitos criminais, apenas eleitorais (compra de votos, propaganda irregular, desvio de verbas de campanha, etc). Veja só que interessante:
Os três primeiros partidos somam mais da metade dos cassados por corrupção. Curiosamente, é neles que se instalam alguns dos mais estridentes tribunos do Congresso Nacional. O grande demônio da velha imprensa, o PT, ocupa um modesto nono lugar…
Nesta semana, dois governadores estão sobre suspeita de envolvimento com o esquema Cachoeira. O do DF (PT) ocupa um espaço muito maior nas manchetes dos jornalões que o de Goiás (PSDB), embora as provas contra este sejam cada vez mais consistentes. A manipulação é clara,e mostra como anda corrompido o tal “quarto poder”. Duro é ver gente – que se acha séria – acreditar na revista Veja, por exemplo… Sinal de afrouxamento mental, talvez conveniente para defender certas idéias meio primitivas. A velhaca revista está cada vez mais atolada no esquema do contraventor-corruptor, que mandava até colocar notas sobre seus desafetos
Enfim, o tema não é fácil. A corrupção é eterna, inerente ao ser humano. Se intimida com mais justiça, mais verdade, mais transparência, mais deputados comprometidos com as promessas de lisura. Eles existem, sim, quem acompanha as ações parlamentares sabe disso. E cassação, prisão e julgamento de quem corrompe ou é corrompido, com devolução do roubo e pagamento de multa equivalente (alô, Maluf!).
Quando alguém te pergunta o que fazer para melhorar, responda: Que tal começar não elegendo corruptos em 2012?