Subir os quase quatrocentos degraus da Catedral de Notre Dame e ver de perto as famosas gárgulas é um dos programas favoritos dos turistas em Paris. Minha primeira referência deste cenário vem do cinema, com o Corcunda de Notre Dame, que assisti ainda menino. A interpretação de Charles Laughton é inesquecível. Como esquecer Quasímodo tentando conquistar a cigana Esmeralda (Maureen O’Hara) tocando aqueles sinos enormes, enlouquecido?
Pouco a pouco, fui me familiarizando com as gárgulas e quimeras que ornamentam a fabulosa igreja. A ponto de descobrir a diferença entre gárgula e quimera, veja só! As gárgulas servem de escoamento das águas de chuva, e sempre têm a boca aberta. Sua função é fazer com que a água caia longe da parede, evitando manchá-la.
Os gregos e romanos gostavam de esculpir leões ou peixes para a função de gárgula. A era medieval, com seus fantasmas e medos, desenvolveu essas figuras grotescas e incorporou-as à arquitetura gótica, da qual a Catedral de Notre Dame é um exemplo famoso.
As quimeras são apenas decorativas. Passa na cabeça de alguém, nos dias de hoje, enfeitar um templo cristão com estes bichos estranhos, que muitas vezes tem chifres e pés de bode, fenótipo clássico do coisa-ruim?
Estas, na verdade, foram criadas pelo arquiteto Viollet-le-Duc, durante a restauração da Catedral, feita no século XIX. Embora inspiradas nas figuras da Idade Média, são na verdade bem mais recentes. E, de tão feias, acabam virando charmosas, podendo ser encontradas em chaveiros, camisetas, ímãs de geladeira, brincos e colares. A antiga função de espantar maus espíritos talvez ainda esteja no inconsciente de quem adquire um souvenir desses…