Passeei por algumas livrarias paulistanas em dezembro, antes e depois do Natal. Gosto de presentear com livros, como muita gente boa. Na Fnac, por duas vezes, vi o livro A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr, entre os mais vendidos. Um dia em terceiro, outro em segundo, perdendo apenas para a biografia do Steve Jobs (aquele muquirana ególatra que nunca pensou em ajudar o próximo. Perto dele, Bill Gates é quase um santo, com suas doações para a África, pela erradicação da malária, contra o analfabetismo, etc.).
Na Livraria da Vila, idem. Ibidem, na Nobel. Ou seja, o livro está vendendo que nem gelo no deserto. Apareceu nas principais listas do país. Até alguns jornalões publicaram, meio a contragosto. Mas a revista in-Veja, aquele pedaço apodrecido de mau jornalismo, inova. Ou melhor, faz o que costuma fazer: mente. O livro simplesmente não aparece na sua lista de “mais vendidos”, nesta semana.
Ou seja, bradam contra a censura (que nunca sofreram neste governo), mas são os primeiros a praticá-la, se vai contra seus interesses. Manipular lista de livros mais vendidos é falcatrua pequena, perto das reporcagens de capa que o chiqueiro da editora Abril publica usualmente.
Me intriga o fato de ainda haver leitores para esse tipo de publicação. Gente que se acha inteligente, mas que gosta de ser enganada. Gente que aplaude mentiras, que fecha os olhos para fatos escancarados, que se inebria com o ódio destilado por colunistas de aluguel. Enfim, gente completamente desmoralizada pelos fatos. Que apoiaria, de rabinho abanando, um golpe contra o governo democrático que temos hoje no país, apesar dos pesares.
Não à toa, o maior cliente da editora Abril é o governo do estado de São Paulo. O ínclito governador Serra (mais um cargo que ele abandonou no meio, como tantos outros) assinou, sem edital ou concorrência, a maior compra de assinaturas já registrada por essas bandas. Não à toa, teve direito a capa meiga, sorridente, na campanha presidencial do ano passado. E paulada nos concorrentes, pois é o (cliente) número um.
Vejam só: o principal denunciado no livro do bravo Amaury, que não perdoa nem tucanos nem petistas, é este senhor acima. Que a in-Veja, em 99, publicou na capa, em plena privataria. Hoje esconde, fingindo que nada aconteceu. Mudou a in-Veja, ou mudou o Brasil? Ambos mudaram, em sentidos opostos. Uma foi pro esgoto, o outro está tirando o pé da lama, tentando corrigir os erros do passado. Que venha a Comissão da Verdade, tão necessária, e o Conselho Público de Comunicações, com regras claras e definidas para disciplinar esse charco onde naufraga a nossa “velha” imprensa. Como em qualquer país civilizado, aliás.