Arquivo para outubro \31\-02:00 2010

Nós podemos!

E, no final das contas,

Descobrimos que podemos.

Nós, mulheres, podemos.

E nós, homens, podemos.

 

Eleger uma mulher,

Lutar por um projeto mais justo,

Ampliar o horizonte,

“agarrar o sol com a mão”.

Por que não?

 

 

 

 

Os juristas e as eleições

Semana final de campanha, espíritos acirrados, acusações mútuas e infâmias difundidas pela velha imprensa, que cada dia fede mais – para quem a lê – e não cheira e nem fede, para a imensa maioria do povo brasileiro.

Por sorte ainda temos a Carta Capital, que nesta semana mostra como boa parte do empresariado brasileiro não acredita em retrocesso. Estão lá Roberto Setúbal (Itaú) e Abílio Diniz (Pão de Açúcar) elogiando  o governo Lula, ao lado de Roger Agnelli (Vale) e outros.

Fui a alguns eventos de campanha, nos últimos dias. O comício de Dilma em S. Miguel Paulista me impressionou pela quantidade de gente. Também pelo número de bandeiras de entidades e partidos, e quase nenhuma do PT. A tal militância apaixonada de outros tempos parece mesmo estar em casa, fazendo campanha pela internet…

Marcante foi o manifesto dos juristas, na PUC-SP, terça passada. Tão lindo quanto o dos artistas, na véspera, no Rio, embora menos estrelado. Discursos fortes de Frei Beto, Luiza Erundina, padre Julio Lancelotti (“a Igreja que aprendi a respeitar lava os pés dos pobres, não está a serviço dos ricos!”), Dito (dos movimentos populares), políticos e vários juristas, como o paranaense Fachin, que leu o manifesto a favor de Dilma.

Forte mesmo foi o depoimento em vídeo do notável Celso Antonio Bandeira de Melo, professor de várias gerações de advogados da PUC, que se encontrava fora do país, mas fez questão de enviar sua mensagem.

Recentemente, me decepcionei com a virada de casaca de Hélio Bicudo, outro jurista de quem fui admirador (e até eleitor). Seu discurso magoado e rancoroso em relação ao governo que ajudou a construir tem fundamentos pessoais, que ele não tem a grandeza de superar. Queria ser ministro da Justiça, no lugar de Marcio Thomaz Bastos. Não deu.

Fiquem com Bandeira de Melo, que nunca ocupou cargos públicos, e é considerado o decano do Direito Administrativo no Brasil.

 

Vargas Llosa

Impossível negar que fiquei feliz com o Nobel dado a Vargas Llosa. Um escritor cujas primeiras obras me marcaram profundamente. Ainda jovem, deslumbrado com o realismo mágico de gigantes como Cortázar e Garcia Marquez, mergulhei na escritura do peruano com a certeza de que ali estava bem representada outra vertente latino-americana, tão rica quanto aquela. Verista, com influência francesa e inglesa, e igualmente brilhante.

Batismo de Fogo, Os Chefes, A Casa Verde, Tia Júlia e o Escrevinhador, Pantaleão e as Visitadoras. Delícias que apontavam um crescimento em direção do humor, da imaginação crítica, da denúncia das mazelas humanas. Quando se candidatou ao governo do Peru, me decepcionei. Parecia um personagem caricato dele mesmo, um espécie de Zé Serra mais refinado, envolvido por um leque de alianças que pendia para a direita (não que o candidato da esquerda, no caso, fosse melhor. Fujimori foi um grande erro da história continental).

Depois da funesta campanha, MVL virou um cidadão do mundo. Escreveu ensaios sobre Flaubert, fez uma elogiada releitura ficcional de Euclides da Cunha (A Guerra do Fim do Mundo), experimentou o gênero policial com tinturas regionais (Quem Matou Palomino Molero?), arriscou um Marienbad particular em Conversa na Catedral. Confesso que gostei menos dessa ambiciosa tentativa de trabalhar uma narrativa em vários níveis temporais e espaciais. Agora me deu vontade de reler, quem sabe um dia… (Lembram do que Ítalo Calvino dizia sobre livros que nunca releremos, mas guardamos na prateleira com a convicção de um dia enganar o Tempo?)

Enfim, está entre meus romancistas favoritos da Latino América literária. Um pouquinho abaixo de Guimarães Rosa, Cortazar, Marquez e Borges. Junto com Onetti, Rulfo, Machado, Carpentier e Sábato. Tem vaga garantida em minha seleção particular.

A tocadora de violão

Há pessoas que têm a capacidade de nos surpreender. Os de origem humilde, em geral, são os que mais me emocionam. Não são estudados, diplomados, não ostentam  currículos. Vão lá e fazem. Tiram do fundo do coração um vigor, uma capacidade de invenção, de adaptação às dificuldades, e acabam descobrindo novos caminhos. Mostram aos doutores que no embate direto com a vida e com a arte, podem se sair melhor. Não faltam exemplos na História.

Não, não estou falando do Lula, do FHC ou do Serra. Poderia até, pois o operário que criou 14 universidades ganhou de 14 X 0 (zero!) do governo anterior. É impossível esconder quem dá mais valor à educação. O atual candidato de oposição, quando promete muitas “escolas técnicas”, parece mais querer atender à demanda da indústria por mão-de-obra especializada do que querendo de fato melhorar a vida do povo. Faz uma campanha baseada em mentiras e difamações, aliado ao que tem de pior nesse país. Uma lástima. O que recebo de mensagem virulenta e odiosa contra Dilma nessa campanha é algo que beira o doentio: preconceito, intolerância, machismo, fascismo, medievalismo, e outros ismos. Sempre foi uma mulher valente, por enfrentar uma ditadura e ser torturada, aos 19 anos. Na França, em Portugal, no Chile ou na China, seria aplaudida como uma heroína. Enfrenta hoje, mais uma vez, os porta-vozes do atraso, do Brasil coronelesco e subserviente ao capital internacional, que superamos no início deste século (alô, FMI!). Brava mulher, que cada mais fortalece a convicção de meu voto.

Mas queria falar de outra mulher, infelizmente anônima. Alguém que subverte todas as regras clássicas do violão para fazer, do jeito que aprendeu, a sua música. Boa música, instintiva, alegre, daquelas que o filhinho da classe média metida a besta tenta fazer, por anos seguidos, até desistir. Por falta de alma, de sinceridade.

Quebrando todas as normas. Tocando “errado”. E fazendo certo, por que a vida não tem receita!

 

 

 

 

Véspera de eleições

Véspera de eleições. A falta de uma oposição séria, com alguma proposta que fosse uma real alternativa, fez com que o governo não gastasse muito os miolos com ampliação da plataforma. A continuidade basta. Uma pena. Governos só produzem e realizam sob cobrança popular. Qualquer governo. Dilma colhe os bons frutos da era Lula, e vai gerenciar os resultados.

A velha imprensa devia ser impressa em papel amarelado, para ser coerente. Tomou partido, inventou factóides, misturou jornalismo investigativo com mentiras espalhafatosas. Como se não bastasse, a Falha de SP censurou um blog independente que satirizava suas notícias furadas. O jornaleco da Barão de Limeira, que esbraveja pela liberdade de imprensa, não suporta a liberdade dos outros. Zé Simão pode satirizar quem quiser em suas páginas, mas um blog não pode satirizar a Falha de SP. Colunistas podem destilar ódio contra o governo na página de Opinião, mas gozar as besteiras do velhaco jornal, ah, isso não! Veja aqui o episódio lamentável.

O Estadão tentou ser melhor, e piorou. Assumiu em editorial que era pró-Serra, a uma semana das eleições. Ha ha ha, será que alguém ainda não havia percebido? Notícia velha, e também velhaca. Antes de confessar o apoio, a agência Estado noticiou um comício em Tocantins onde uma multidão aplaudiu Zé Serra. Só que o homem não estava lá! Olha só o que denunciou o blog Tijolaço:

“Outro “detalhezinho” a toa é que a notícia foi divulgada pela agência às 13h07, duas horas antes do início do evento. E lá estava escrito que a passagem de Serra durou menos de quatro horas e chegou a reunir 20 mil pessoas. Esse é o jornalismo de premonição praticado por um dos principais jornais do país.”

Zé Serra, impedido de pegar o avião por causa do mau tempo, ficou em São Paulo. Mas os leitores da agência Estado ficaram a ver comícios-fantasma…

Isso sem falar do furo da Carta Capital, que noticiou as maracutaias da filha de Serra com a irmã de Daniel Dantas. Criaram uma empresa em Miami, e ofereciam o sigilo de 40 milhões de brasileiros a quem quisesse “fazer negócios no país”. Ou seja: A infeliz que violou o sigilo de quatro tucanos em Mauá é “bandida, faz parte de uma quadrilha”, etc. E a filhinha do Serra? É uma questão de escala? Violar uma declaração de renda é crime, violar milhões é um mero negócio?

Nenhuma linha sobre Verônica Serra saiu na velha imprensa, que tem em suas redações a ordem de não reproduzir nada que a revista de Mino Carta publique. E o velho Mino continua fazendo um jornalismo muito melhor que o dessa laia, que enfia o pé na lama sem perder a arrogância.

Estive no ato que rolou no Sindicato dos Jornalistas de SP,  no dia 23/09, reunindo blogueiros independentes, partidos, entidades de classe e profissionais liberais. Todos os discursos defenderam a liberdade de expressão e a democracia, contra essa espécie de golpismo midiático. O que sai na velhaca imprensa, no dia seguinte? Que era um ato contra os jornais, contra a imprensa. Nojento. Ou risível, se você estiver de bom humor.

Enfim, viva a blogosfera! Que por aqui a liberdade de informação continue ampla e irrestrita. Que a ação da Falha de SP sirva como exemplo de autoritarismo, censura e incapacidade de ouvir opiniões divergentes.

E que Dilma mantenha a liberdade de expressão que Lula tão bem soube cultivar. Afinal, o barbudo provou ser muito mais democrático que Mesquitas, Frias, Marinhos, Civitas et caterva.

PS, em 03/10: Nada como um dia depois do outro! Votos apurados, e Dilma não levou no primeiro, graças à arrancada de Marina. Quem sabe agora, frente a frente, os candidatos coloquem realmente as ações, propostas e projetos que representam. Chega de debate chocho! Os dois são ruins de vídeo, mas terão de se abrir mais, parar de enrolar.

E os votos de Marina? O PV é bem pouco ideológico. Em São Paulo é tucano, na Bahia é lulista. Vai rachar, mas em que proporção? Novas emoções a caminho.


Arquivos