Terno de Reis

De certo modo, este é um percurso que eu vinha traçando há muito tempo. Vontade de narrar histórias, mas sem o talento e a verve necessária para conta-las de viva voz, numa mesa de bar, num palco ou numa reunião de amigos.

Escrevi muitos roteiros audiovisuais profissionalmente na vida. Quase todos foram documentais, jornalísticos ou didáticos. As ficções ficaram engavetadas, ou viraram projetos de filmes nunca filmados. Um pouco de preguiça e um pouco de incompetência, reconheço.

Nos últimos anos, escrevi alguns contos. Eram exercícios que me davam certo prazer, e o retorno generoso de amigos e desconhecidos me convenceram de  que eu não era um péssimo contador de causos. Um dia, no meio da estrada, vendo um por de sol no horizonte, tive um estalo. Me ocorreram muitos na vida, mas todos esquecidos no dia seguinte.  Nesse dia, comentei com a Carmen: “Anote aí, tive uma ideia!”.

No dia seguinte, ela me lembrou. E também na semana seguinte. Eu sabia que estava com a cobradora certa do meu lado. Comecei a rascunhar a ideia, ruminando aqui e ali o capinzal da imaginação. E então pintou o concurso de uma bolsa da Funarte para desenvolvimento de romances inéditos, em 2010. O lance era apenas enviar uma sinopse, um plano de trabalho e algo já escrito.

Por estranhos desígnios do destino (e muita sorte, pois estas coisas são lotéricas), fui um dos escolhidos.  Alarmado, consultei um amigo escritor, e ele falou: “É fácil. Você recebe a bolsa, estipula um cronograma, e envia um dos teus inéditos”. Como assim? Eu tinha apenas uma sinopse inédita!

É a diferença entre profissionais e amadores. Planejei umas férias prolongadas, me despedi da família e fiquei três meses em Ilhabela, isolado, escrevendo o tal romance. Satisfeito com o resultado, enviei para algumas editoras grandes, e nenhuma se interessou. Qual o problema com as pequenas? A distribuição. O mesmo mal que afeta o cinema ou a música brasileira. Produzir não é tão difícil, mas como levar até o público, sem entrar nos esquemões?

Deixei esfriar, iniciei outro romance. E mais outro. Até que num lançamento do livro de um amigo, fui apresentado ao Tonho e ao Gorj, os editores da Penalux. Papo vai, papo vem, fiquei bem impressionado com a competência dos gajos e com a qualidade editorial dos livros. E deu nisso:

 Capa Daniel Brasil 07-05-2015.indd

O lançamento será no Canto Madalena, em Sampa, no dia 27 de junho, um sábado, às 17 h. Vamos lá tomar uma cerveja, dar risada e reencontrar os amigos? Deixo como aperitivo um pequeno trecho, que está na contracapa do livro:

“Quantos seres no mundo viram a própria morte? Os que morreram lentamente, em fogueiras, em cruzes, em cárceres. Os afogados, os devorados pelos bichos, os incendiados pela febre anteciparam o fim, tiveram vislumbres da escuridão eterna que se aproximava.  Para uns, a serpente venenosa, o escorpião, a bomba, a mão armada. Para outros, a névoa que lentamente dissipa o mundo, a falsa embriaguez dos anestésicos, a noite branca dos hospitais. A mão levemente perfumada do anjo que fecha teus olhos, com um sorriso gélido. A garra peluda do fauno que gargalha, enquanto prepara a corrente com a qual arrastará tua alma até o canil celestial. A imaginação de cada um escolhe a forma de morrer.”

PS: A criação e edição do “book trailer” (eu nem sabia que existia esta expressão!) é de Maria Flor Brazil. Não por acaso, minha filha.

6 Respostas to “Terno de Reis”


  1. 1 valmir 01/06/2015 às 11:28 am

    vai ser um grande prazer meu caro amigo

  2. 2 Maria Flor Brazil 01/06/2015 às 7:15 pm

    Nada é por acaso, meu pai! 🙂

  3. 3 Medina 08/06/2015 às 1:57 pm

    Daniel não dê atenção para as grandes editoras, você foi com vinho amadeirado e eles querem coca-cola. Sua escrita é sofisticada e aconchegante, seu público é de pessoas que apreciam algo elaborado, que percebem que sua escrita é elaborada.
    Sábado estarei lá, abraço.

  4. 6 Daniel Brazil 07/07/2015 às 9:57 pm

    Pra quem perdeu o primeiro lançamento, uma segunda chance. O terno retorno do Terno de Reis se dará na Praça Benedito Calixto, em plena luz do dia. No dia 18 de julho, sábado, às 15 h, na tenda do Autor na Praça/ Espaço Plínio Marcos, até 17 h. Espaço múltiplo e democrático, mantido há anos pelo bravo Edson Lima, batalhador cultural e velho amigo de saraus e botecos do Baixo Butantã. Espero você lá!


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